domingo, 20 de novembro de 2011

Meus bens materiais

Fui batizado na igreja católica quando nasci. Toda minha família e familiares eram católicos. Me lembro de recolher donativos, com 6 anos de idade, para a construção da igreja do bairro. Lembro de malharmos o judas nas festas juninas e do pânico que sentia vendo aquilo. Tive avó adventista também. Minha familia se converteu às Testemunhas de Jeová quando eu tinha 7 anos. Descreverei esse episódio mais para frente. Mas, o que gostaria de salientar aqui, é que nas religiões às quais eu fiz parte, foi incutido na minha mente que eu não deveria pedir coisas materiais, a não ser o suficiente: o pão-de-cada-dia. No entanto, agora eu tinha uma empresa e necessitava de muito mais. Ao mesmo tempo que me sentia fraco para sustentar o meu negócio eu ficava receoso de pedir coisas para o meu crescimento financeiro. Lembrem-se que em momento algum aqui estou priorizando o lado material ao lado espiritual. Até mesmo porque com o lado espiritual firmado dentro de nós não há como buscar o caminho material, como vocês poderão ver mais a frente. Assim, um dia, na minha primeira gira de cigano, fui avisado que aquele era um ritual para os bens materiais, prosperidade e negócios. Pensei:

- Será que se eu pedir que o meu negócio prospere isso acontecerá?

Então, fui ter meu primeiro atendimento com o médium que, com suas entidades, iriam me preparar bastante para a minha jornada. Quando me aproximei dele, sempre tremendo os braços e as pernas por sentir às vibrações daquele lugar, recebi meu passe e ele perguntou o que eu queria pedir. Contei para ele sobre o meu negócio e que gostaria que ele prosperasse. Para minha surpresa ele me disse que não poderia fazer aquilo. Me deu uma moeda e me disse para deixar em local visível no meu escritório. Sempre que olhasse para ela, que eu lembrasse do quanto eu era capaz que se eu não acreditasse em mim ninguém poderia fazer nada. 

Saí de lá bem energeticamente mas confuso mentalmente. Afinal, se os ciganos trazem os bens materiais porque meu crescimento financeiro dependeria de mim? 

Ao retornar ao meu escritório na segunda-feira, deixei a moeda em lugar de fácil acesso conforme o Cigado Rayan, esse era o nome da entidade com a qual passei, havia me orientado. Quando olhava para ela procurava entender as palavras dele. E aos poucos foi clareando minha mente. Aquele não seria mais uma história como foi a do Dumbo, mas era um pouco parecida. Lembram-se do Dumbo? Que necessitava de uma pena para poder voar e quando perdeu a pena ele pensou que não voaria mais? Então, no meu caso eu sabia que não seria a moeda que faria com que eu atingisse meus objetivos materiais. Mas entendi o recado. Sabia que sem fortalecer meu interior e acreditar que meu empreendimento prosperaria eu jamais, nem com toda ajuda espiritual do mundo, fazer com que ele crescesse.

Aprendi com isso que a Umbanda não é só mágica. As pessoas costumam procurar os centros pensando que eles farão magia para que as coisas aconteçam de forma fácil para elas. Mas, de que me adiantaria um negócio próspero se que não saberia lidar com ele? Vim somente a entender tudo isso plenamente conforme os meses avançavam. Os bens materiais são importantes sim, no entanto, para recebermos estes advindos do povo de Aruanda ¹, temos que ter fé primeiro em nós mesmos para termos a certeza de possuirmos a força suficiente para ficarmos de pé durante toda a caminhada.

Onde está a magia nesse caso? Eu não precisei falar para o Cigano que eu necessitava de ajuda interna, que eu precisava modificar meu interior. Ele simplesmente intuiu isso e me deu o que seria importante para mim naquele momento.

Hoje em dia quando tenho atendimento com o Rayan, ele não me pede mais para acreditar em mim, pois, adquiri uma força interna que parece ser capaz de mover montanhas, ele simplesmente direciona a energia dos ciganos para que esta me envolva e cubra também meu caminho e meu negócio para que a vibração advinda desse povo possa trazer prosperidade material para mim e para os que estão ao meu lado.

Obrigado ciganos pela maravilhosa vibração concedida!

1 - Aruanda: É o céu católico para os Umbandistas. Onde ficam os espíritos ou guias espirituais.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Entrando para a família.

         O tempo foi passando muito rápido. Quando percebi, estava frequentando aquela "casa" há quase dois meses. Resolvi então fazer a carteirinha de mensalista. Durante toda minha vida, nunca me apeguei fortemente a alguma coisa. Sempre que me aproximava, perdia rapidamento o gosto por aquilo que estava fazendo. Decidi que naquele lugar eu iria exercitar algo em mim, a sensação de pertencer a um lugar, criar vínculos e raízes. Queria ver, junto com tudo que estava sentindo ali, até onde eu iria. Eu precisava disso. Sempre tenho em minha cabeça o que uma terapeuta de vidas passadas me disse um vez. Ela, sob orientação dos anjos que me acompanhavam, me disse que eu era muito critico. Que eu estava sempre disposto a observar o menor erro para poder julgar e me afastar daquilo como se eu tivesse sempre a necessidade de subestimar as coisas. Era uma forma de eu me sentir superior e provar algo que eu não pude provar no passado. Fazia isso sempre, de forma inconsciente, para me sentir melhor. No entanto, não queria mais ser assim. Queria aprender a ser uma pessoa humilde. E nada melhor do que os vinculos para nos ensinar isso. É assim com as amizades, no casamento, no trabalho enfim, em todo situação que nos "obriga" a vivenciar o contato com outra pessoa. Veja bem, se no casamento algo não está bem o que fazemos? Saímos correndo, rompemos a relação e tudo se resolve? Não, em geral ficamos alí, brigamos, ficamos um pouco distante, sentimos a culpa de ter feito algo errado, afinal, não precisava ter gritado ou discutido, e, em geral, pedimos desculpas. Ao menos é assim que deveria ser. Aliás, nem precisaria haver a parte da briga. Mas, estamos tentando melhorar, não é mesmo?!

         Além da mensagem da terapeuta, vinha a minha mente algumas  cartomantes que eu havia recorrido nos últimos 5 anos. Elas sempre me diziam que eu tinha um proposito espiritual muito grande, que minha energia era muito forte, que quando eu encontrasse minha espiritualidade eu cresceria muito. Eu olhava para elas sem entender o que elas diziam. Eu sempre fora uma pessoa muito materialista. Quando me apeguei ao mundo espiritual foi mais de uma forma intelectual que intuitiva, sensitiva. Então, quando elas me diziam aquilo, era o mesmo que dizer nada. Mas, à medida que, sexta-feira após sexta-feira, eu ia sentindo meu corpo vibrar cada vez mais no centro, bem lá no fundo algo me dizia que talvez pudesse ser isso, ser esse o caminho grande que eu deveria percorrer.

Foi assim, em meio a vários pensamento e procurando me fortalecer que eu ia ficando no centro.

domingo, 13 de novembro de 2011

Um Bouquet para Rosa Caveira

     Durante a semana não via hora em que iria comprar as rosas pedidas pela Rosa Caveira. Das poucas coisas que me lembrava, afinal foram tantas emoções naquela noite de sexta-feira, foi que a Rosa era uma mulher altiva, e que ela olhava em meus olhos como se quisesse entrar o mais fundo onde ela pudesse alcançar. Ela tinha uma cara fechada, ficava com as mãos na cintura e era muito imponente. Escolhi então as melhores rosas que encontrei para levar até ela, quando digo ela, estou me referindo a Rosa Caveira e não à medium. Na umbanda separa-se bem as coisas. Quando agente passa por atendimento não estamos falando com um ser humano e sim com um espírito. 

     Escrevi tudo o que eu queria. Ocupei uma folha oficio, frente e verso, letras miúdas com tudo o que eu queria de bom e o que fosse de ruim que saísse da minha vida. Faltei só pedir a paz mundial. De posse das flores e da carta fui até o centro na próxima sexta. Chegando lá, procurei a cambono da Rosa e pedi que ela me orientasse em o que fazer com aquilo. Ela chamou então a médium. Quando esta se aproximou, eu não sabia como conversar com ela. Era praticamente outra pessoa!!! Uma menina branca, pálida, bonita sim, mas não tinha aquela expressão de força, aquele olhar que era capaz de furar os olhos de qualquer um, enfim, fiquei mudo a espera de orientação. As rosas foram organizada por ela mesmo em frente a um altar que ficava aos fundos da casa, e a carta ela pediu para que eu acedesse uma vela sobre ela e que orasse pedindo que tudo que nela estivesse fosse atendido. Assim o fiz. Depois da oração esperei pelo meu atendimento. Aquela seria gira de cigano¹. Passaria com a mesma médium, não me recordo agora qual era o nome da entidade que ela incorporou. 

     Chegado o momento do meu atendimento, me dirigi a ela. Minhas mãos tremiam e minha perna também. Não sabia o porque. Pensei que era por eu estar nervoso e ansioso. Ela me disse que eu tinha mediunidade. Eu escutei aquilo meio sem acreditar. Eu?! Médium?! Incorporar?! Logo eu que era muito racional para tudo?! Depois de um grande período em que fiquei praticamente ateu em minha vida, passei a acreditar em Deus, mas, tive muita distancia com a aproximação a Ele ou qualquer coisa que o representasse. Ela perguntou o que eu queri e eu disse que queria que meu empreendimento desse certo. Ela disse que daria, mas, que era pra eu me fortalecer, pois, eu estava muito fraco. 

     Sai de lá com isso na cabeça. Realmente minha força estava esvaindo com muita facilidade. Se quando eu saia do centro eu me sentia muito renovado, decidi ir toda semana para me fortalecer.

1 - Gira de Cigano: É uma sessão espiritual na qual são recebidos os espíritos dos ciganos. Essa energia, espiritos ou entidades ciganos são muito bons para resolver questões ligadas ao trabalho e ao dinheiro.

Terceiro Contato - O início do meu nascimento

     Fiquei quase um ano sem procurar outro centro de umbanda após minha última experiência. Nesse intervalo continuei frequentando o templo xamânico que eu sempre ia. Nesse período, minha vida seguia normalmente, eu sempre em busca de conquistas e alcançando algumas, perdendo outras, consegui até montar meu próprio negócio.

     Ter um empreendimento demanda muita força e energia e após alguns meses da inauguração do mesmo, eu sentia o tempo todo um desgaste energético em mim. Eu sabia que tinha que lutar para conseguir sustentar meu negócio e até mesmo minha própria vida, mas não sabia o que causava aquele desanimo. Comecei a questionar minha existência aqui na terra, tinha surtos de depressão (mas não demonstrava isso a ninguém) e pensava que tudo daria errado pra mim. Foi quando, ao descobrir que a mãe do meu cunhado estava cambonando¹ em uma casa de umbanda, pedi o endereço desesperadamente e falei que iria. Naquela semana eu estava muito, mas, muito desgastado. Marquei de ir na umbanda na sexta-feira, um amigo veio do rio para eu apresentar no sábado o templo xamânico que eu frequentava e, até brinquei na época, se "bobeasse" eu iria em uma igreja evangélica no domingo.

     Quando chegou a sexta-feira, fui ansioso para ver se algo acontecia, se me sentiria aliviado. Já no centro, descobri que naquela noite seria girade esquerda ². Peguei minha senha, por lá tudo era muito bem organizado, cada medium atendia a somente 5 pessoas, e aguardei. Ritual iniciado, fui chamado logo no ínicio, minha senha era de número 1. Retirei meu sapatos e entrei. Quando aproximei da médium, esta estava incoroporada com sua pomba gira³ Rosa Caveira , ela encostou suas mãos em meus ombros e eu já comecei a chorar. Chorava muito de dar até soluços. De olhos fechados não via nada que acontecia envolta. Enquando me aliviava em lágrimas, eu não pensava em nada, não sabia até mesmo o motivo de eu estar chorando. Fui acalmando aos poucos e quando consegui parar de chorar ela me disse que eu precisava acreditar mais em mim, que eu precisava me fortalecer, pediu para que eu na próxima semana eu levasse até o centro rosas vermelhas e amarelas e escrevesse em um papel tudo o que eu queria para minha vida. Quando terminou o atendimento, sai de lá muito bem, parecia que havia retirado um grande peso dos meus ombros.

     Já com minha tarefa espiritual para a proxima semana, eu voltaria certamente a este centro, primeiro por ter me feito muito bem, e segundo, por eu sempre querer desafiar a vida, queria saber se realmente o local teria o poder de me ajudar a conquistar a força necessária para que eu atingisse meus objetivos (espirituais, emocionais, afetivos e materiais).

    Alí seria o inicio do meu nascimento, com a dúvida na mão e com o local certo que iria despertar em mim coisas que eu jamais pensei que poderiam existir.

1 - Cambonando: Cambonos tem a função de ajudar o medium que presta orientação às pessoas que estão em busca de ajuda nos centros de umbanda. O verbo cambonar teria sido criado de forma coloquiar para designar a ação daqueles que são cambonos.

2 - Gira de Esquerda: Gira é o mesmo que ritual. Assim como os católicos tem a Missa os umbandistas tem as Giras. As giras se dividem em direita e esquerda, ou seja, em blocos de energia diferente. Nas giras de direita serão recebidos um tipo de espírito, ou entidade, enquanto na gira de esquerda serão recebidos outros. Cada qual com um propósito diferente.

3 - Pomba Gira: É um tipo de entidade, ou espírito, que atua nas casas de umbanda nas Giras de Esquerda. Existem várias pambas giras sendo que uma delas é a Rosa Caveira.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Segundo Contato

 Após minha primeira experiência em um terreiro, fiquei ausente em cogitar qualquer possibilidade de ir novamente a um lugar do tipo. Com alguns amigos ligados ao candomblé e à umbanda, procurei incentivá-los a não irem. Para que ir a um lugar onde espíritos intercedem por você enquanto temos a energia cósmica, um deus maior ou algo parecido para interceder pela gente?! Era esse o meu questionamento. Hoje em dia eu sei que esses mesmas entidades são quem fazem parte da energia cósmica e do Deus supremo só que compartimentado em suas amplas qualidades. No entanto, o meu argumento para me afastar de um centro era a visão limitadora de não entender que não importam os nomes, no final, Deus sempre será o mesmo. 

     Para dar atenção à minha espiritualidade, procurei ir espaçadamente ao templo xamânico que já frequentava. Lá eu adquiria um crescimento espiritual imenso. Mas era tudo ligado ao intelecto. Aos poucos minha energia ia esvaindo e eu não entendia o porque. Um dia, ao comentar com uma das minhas amigas umbandistas, a mesma me disse que havia um centro que eu haveria de gostar, que lá tinha uma energia incrível. Eu como sempre a espreita de viver novas situações, fui. Quando lá cheguei, em uma casa no bairro Ipiranga, vi que havia um diferencial na cerimônia, não fumavam charutos. Não por isso que senti uma energia muito boa no local, mas, realmente ali havia algo diferente. Logo retirei meus sapatos e fiquei ao fundo observando o ritual de incorporação. Minha perna dobrou algumas vezes e pensei ser cansaço. Ao chamarem meu número de atendimento e ao aproximar-me da entidade, quando esta encostou em meu peito, desandei a chorar. Não sabia o porque eu chorava tanto. Sentia que algo pesado ia saindo de mim. Colocaram um lenço em minha cabeça e me levaram até um altar que havia no lado externo. Ali, acenderam uma vela sobre mim e fizeram uma oração. Quando retornei à entidade, estava me sentindo muito bem. Escutei os conselhos que hoje não saberei dizer quais foram e sai do local como se eu estivesse a pisar em nuvens. Sentia-me muito feliz e impressionado com a diferença de sentimentos, pois, da primeira vez havia sido péssima a experiência, que eu tinha ao ir para minha casa. Realmente a umbanda teria algo muito bom para oferecer aos seus filhos. 

     O preconceito ali deixara de existir e eu teria o campo aberto para os episódios que aconteceriam um ano após desta minha ida ao centro.

Primeiro Contato

     Há mais ou menos dois anos, fui convidado por uma amiga a ir em um centro de umbanda. Sempre tive a curiosidade de conhecer novas lugares, pontos de vistas, enfim, vivo intensamente todos os momentos da minha vida. 

     Quando cheguei ao templo, achei estranho o fato de não ter um terreiro com terra e céu aberto. Era na verdade uma pequena sala lotada de pessoas. Tendemos a pensar na umbanda com um terreiro de terra pisada, uma fogueira e pessoas girando em volta, ou seja, criamos uma imagem da umbanda como acontecia nos terreiros antigos de candomblé e alguns poucos que hoje possam se dar ao luxo de ter contato com a terra. 

     Após minha surpresa com o local, fiquei abismado com os toques daqueles tambores e em como eles faziam um efeito forte em mim - emocionavam-me ao extremo! Mas, não conseguia relaxar. Por mais que eu estivesse disposto a estar naquele templo, o preconceito que me acompanhava não me permitia sentir plenamente, ainda mais ao ver pessoas incorporando espíritos e uma grande nuvem de fumaça devido ao charutos que eram fumados no local, somando ao grande número de imagens religiosas que ali havia.   Alí, fui instruído que quem conversaria comigo, era uma entidade, ou seja, um ser espiritual desencarnado e que a pessoa física que estava diante de mim era um "cavalo", termo usado para descrever aquele médium que recebe o espirito. Para muitos que frequentam a umbanda há anos pode parecer bobagem eu descrever aqui estes termos. Mas, para uma pessoa que foi Testemunha de Jeová até os 20 anos, ateu até os 23, agnóstico até os 24, kardecista até os 27 e xamânico até os 29, ao entramos em contato com a umbanda, ficamos meio atordoados com o novo vocabulário, músicas e roupas específicas que esta religião traz. 

     Após o atendimento com a entidade que tive, não me lembro direito o que aconteceu no atendimento (eram tantas informações), sai do local comentando com minha amiga que não havia gostado. Minhas pernas pareciam feitas de chumbo - estavam muito pesadas. Meses depois descobriria que, assim como existem pessoas boas e más, existem templos com os mesmos objetivos de bondade e maldade. Não me cabe julgar se aquele templo é bom ou ruim. No entanto, o próximo que eu iria, mesmo havendo dito que não iria pisar de forma alguma em outro lugar parecido, iria mexer comigo de uma forma que não esperava.