segunda-feira, 27 de outubro de 2014

A Trindade do Tempo



O Tempo pode ter várias divisões: segundo, horas, dias e etc. No entanto, na espiritualidade que vem dos ensinamentos de origem africana, podemos dividir o tempo em 3 partes que receberão os seguintes nomes: Oni Sáà Wuré, Macura Dilè e Macura Tatá ou Macuriá - essão são os Orixás Tempo. 

Oni Sáà Wuré é o tempo maior, aquele que não tem inicio nem fim. 

Macura Dilè é o tempo que teve um início mas não tem fim (o inicio da criação teve início mas não terá fim (o universo está em constante expansão). 

Macura Tatá ou Macuriá é o tempo que tem inicio e fim (nossa existência, por exemplo, nascemos, crescemos e morremos). 

No final, todos esses tipos de tempo estão interligados entre si. 

A essa união podemos chamar de trindade dos tempos ou então Murachó. 

Dessa explicação podemos compreender a música: 

É tempo macurá Di Le 
É tempo macurá Tatá A, a, é a murachó, o, o, 
É o macuria. 

Acima, saúda-se os tempos dos quais fazemos parte.



terça-feira, 8 de abril de 2014

MUSICAS PROIBIDAS - Parte 1

     Quando você cresce em uma família de Testemunhas de Jevá, qualquer tema que seja contrário aos assuntos da religião jamais podem ser usufruídos ou comentados, a não ser para criticar. Quando alguns desses temas proibidos eram abordados em musicas, simplesmente eu tinha que trocar de rádio, jogar o CD fora ou sair de um recinto. Lembro-me de comprar o CD Barulhinho Bom da Marisa Monte e minha mãe queimar o encarte (que continha desenho de mulheres sem camisa) dizendo que aquilo não era “apropriado”. Quando tocava a musica Lenda das Sereias, da Marisa Monte, lá ia eu com preguiça trocar de música – como mexia comigo aqueles tambores no início, como havia ritmo naquela musica, mas, se eu escutasse mesmo que escondido, sentiria uma culpa enorme incutida pela religião. Era melhor nunca escutar.

       Lembro-me da que a maior liberdade que conquistei deixando de ser Testemunha de Jeová foi a liberdade musical e de ritmos.

“Ela mora no mar

Ela brinca na areia
No balanço das ondas 

a paz ela semeia.”

        Por esses tempos eu estava no carro e começou a tocar uma das “músicas proibidas”, pois havia a palavra santa no meio dela. A música se chama Raça, do Milton Nacimento. Musicas são subjetivas e, por isso, passíveis de várias interpretações. A minha interpretação é espiritual. Quando incorporamos é uma força que chega em nós como se fosse mágica e enche nosso corpo de alegria. São os santos, santas que estão vindo até nós e tudo é uma grande euforia. Ficamos alucinados e somos jogados ou rodopiados dependendo  de cada entidade. Cantamos, gritamos nosso sangue ferve algumas vezes. De onde vem essas energia que nos aquecem e cuidam da gente? De onde vem essa força que nos tira das nossas casas e nos movimenta até o templo quase que automaticamente? Iluminam nossa casa, nos dão força e energia. Eles vêm de aruanda, de muito longe para nos fazer companhia. Bom, quem escreveu essas palavras não foi eu, foi o Milton, somente destrinchei para a interpretação que eu tive a partir da minha religião.


Espero estar certo.


Escutem:



Raça
Lá vem a força, lá vem a magia
Que me incendeia o corpo de alegria
Lá vem a santa maldita euforia
Que me alucina, me joga e me rodopia
Lá vem o canto, o berro de fera
Lá vem a voz de qualquer primavera
Lá vem a unha rasgando a garganta
A fome, a fúria, o sangue que já se levanta
De onde vem essa coisa tão minha
Que me aquece e me faz carinho?
De onde vem essa coisa tão crua
Que me acorda e me põe no meio da rua?
É um lamento, um canto mais puro
Que me ilumina a casa escura
É minha força, é nossa energia
Que vem de longe prá nos fazer companhia
É Clementina cantando bonito
As aventuras do seu povo aflito
É Seu Francisco, boné e cachimbo
Me ensinando que a luta é mesmo comigo
Todas Marias, Maria Dominga
Atraca Vilma e Tia Hercília
É Monsueto e é Grande Otelo
Atraca, atraca que o Naná vem chegando


segunda-feira, 7 de abril de 2014

Toque para os Orixás

               Essa semana eu queria um atabaque de qualquer forma. Postei no Facebook uma mensagem pedindo indicações de onde comprar um atabaque barato. Algumas pessoas indicaram vários locais até que um amigo lá do centro me deu seu primeiro atabaque que ele havia comprado para treinar quando começou a aprender a tocar.Veio à jato meu pedido!

                      A intenção ao querer o atabaque é, primeiramente porque sempre me fascinou instrumentos percussivos e depois para aprender o toque que corresponde a cada orixá. Gostaria de informar aqui que a Umbanda não cultua Orixás, logo, saber cada toque de cada entidade não é uma exigência que se faz dentro do maioria dos terreiros. Aprender os toques complementaria também meu aprendizado sobre religiões de matriz afro.

                           Sempre estranhei a forma como tambores me deixavam irrequieto por dentro.  Uma vez quando eu tinha 23 anos eu fui assistir a uma apresentação da cantora Consuelo de Paula. O Show dela começava com ela sozinha tocando um tambor. Pra quê?! Chorei o inicio do show todinho. Outra vez, quanto eu tinha 25 anos, eu estava no Mercado Central de São Paulo quando inesperadamente eu vi uma movimentação de pessoas se aglomerando em um local e, quando me aproximei, começou uma apresentação de Taiko (tambores japoneses). Assim que soaram os tambores lá se foram lágrimas escorrendo novamente. Pensei: "Cacete, que merda é essa que acontece sempre que escuto um tambor?!"

                               Uma coisa eu tenho certeza, nunca serei ogan. O tanto que as entidades me deixam zonzo durante as gira eu jamais teria coordenação para tocar. Admiro aqueles que cumprem essa função. A energia que emana das mãos desses moços e moças (na umbanda mulher pode tocar tambor) é algo que toca profundamente, a caridade através da vibração da musica. Sendo assim, meu aprendizado é só para hobby mesmo.

                             Não consegui aprender violão, flauta e teclado. Espero me dar bem no batuque.

Incorporação e Descarrego

Antes de escrever sobre o descarrego informo aqui que as postagens, que deveriam seguir uma ordem cronológica de aprendizado, não foram constantes e, por isso, serão alternadas entre o que eu estou aprendendo agora e o que aprendi no passado.

Continuando:

         Sexta-feira passada houve gira de caboclo. Eu estava muito feliz, pois, seria a primeira vez esse ano que eu incorporaria meu caboclo. Sim, nesse meio tempo em que fiquei sem escrever foi definido meu chefe de linha, posteriormente escreverei sobre isso. A gira começou e seguimos as ordens das incorporações: primeiro incorpora o pai da casa, depois os pais pequenos, depois os mediuns de linha de passe e posteriormente os mediuns em desenvolvimento. Logo após a incorporação dos pais pequenos, os atabaques tocaram para Ogum e, sem querer, e sem ser o momento da minha incorporação, pois, sou medium em desenvolvimento, incorporei. Eu estava distraído e em momento algum imaginei que uma entidade de Ogum fosse fazer isso, pois, são bastante disciplinados. Se fosse uma gira de esquerda ou gira de baiano eu até entenderia e estaria mais atento desde o início. Depois de desencorporar eu fui chamado pelo Caboclo Ubirajara e chamado a atenção e com razão, não era o momento daquilo acontecer. Fiquei morrendo de vergonha e não sabia onde enfiar a cara. Pedi desculpas posteriormente, mas, uma dúvida ficou: Por que uma entidade tão disciplinada como os caboclos de Ogum desrespeitariam as ordens de uma casa? O desenvolvimento e as apresentações das entidades são feitas em giras específicas de desenvolvimento e não me girar comuns. O que quero relatar com essa primeira parte do texto e complementarei com a segunda parte é que por mais que pensamos estar aprendendo ou dominando algo no mundo espiritual surge algo novo que nos tira do centro e nos impulsiona a questionar tudo que estamos aprendendo.
           Partindo agora para o descarrego, informo que nesses últimos anos eu quase não fiz descarregos como cambono. As entidades do médium que eu trabalhava não me exigiam isso. Esse ano, ao voltar de férias, o médium que eu cambono se ausentou da casa e agora estou cambonando o pai da casa junto a outro médium. Sendo assim, tenho sido solicitado constantemente para fazer os descarregos. Como é doloroso e cansativo. Sentir aquilo tudo de ruim e ter que jogar fora, como desgasta. Em um unica noite é gente triste, depressiva, com problemas no trabalho, na familia, na escola, na vida pessoal, angustias, dores, problemas de saúde enfim, tudo de ruim circula por ali para ser encaminhado e um dos caminhos somos nós como médiuns de transporte. Nessa mesma gira de caboclo, além de ter passado uma vergonha danada com a incorporação no momento errado, quando fui solicitado a fazer um descarrego, durante o processo fui jogado de joelho no chão. Senti algo estranho que não havia sentido em descarrego algum. As pessoas olharam para mim e perguntaram se estava tudo bem. Eu disse que sim, levantei-me e coloquei minhas guias (pois durante os descarrego temos que retira-las). Quando eu segui para o meu local algo me puxou pelas costas e me jogou novamente de joelho no chão, era aquela energia que ainda estava comigo. Na mesma hora comecei a chorar, não sei se as lágrimas eram minhas ou da outra pessoa, só sei que, se foram das outras pessoas, depois se juntaram ás minhas, pois, se tem algo que me desespera é eu não ter o controle sobre as coisas. Me senti tão impotente diante daquilo tudo. Uma incorporação na hora errada depois ser puxado por uma força e jogado no chão. Chegou um momento que praticamente me escondia durante a gira para ninguém me chamar até que me lembrei quando eu fazia parte da assistência e as pessoas me chamavam para atendimento e faziam descarrego em mim. Durante anos eles cuidavam de mim sem exigir nada. Por que eu não poderia fazer o mesmo por eles agora que eu estava sendo desenvolvido? Se a Umbanda é amor e caridade, logo, temos que encarar o descarrego, mesmo que sendo desgastante, como prova de amor ao nosso próximo.

          Com esses dois relatos gostaria de dizer que, quando eu achava que minhas entidades estavam firmes eu fui desmentido e exortado a ficar alerta e sempre pedir pela minha evolução espiritual. Quando eu achava que fazer descarrego era algo fácil e, como esse ano eu já havia feito bastante, fui desmentido novamente, pois, o universo espiritual é vasto e sempre temos de pedir pela orientação das entidades para nos fazer firmes durante aquela caridade que estamos prestando. Sendo assim, não devemos subjugar o mundo espiritual achando que estando aprendendo algo. É sempre melhor duvidarmos que sabemos o suficiente, pois, algo poderá nos surpreender mais dia ou menos dia e o caminho da humildade será sempre a melhor escolha.






segunda-feira, 31 de março de 2014

Aquela criança não esperaria por isso.

         Voltando à minha infância, eu sempre fora alguém muito distante de tudo. Era sempre muito critico, pensativo e por isso me isolava bastante. Apesar de ser uma criança que gostava de viver isolada, tinha meus amigos, me divertia, brincava muito e ia para a escola. Aos 6 anos minha família se converteu às Testemunhas de Jeová. Lembro de não ter gostado muito da notícia, pois, lembro da minha mãe dizendo para mim em uma festa junina da escola: "Aproveite essa festa! Será a última! Jeová não aprova essas festividades". A partir daquele ano de 1987, fui inserido pouco a pouco no cotidiano de uma Testemunha de Jeová. Os rituais deles compreendem orações, estudo da bíblia e pregação nas casas das pessoas. Se alguma Testemunha de Jeová ler esse capítulo, entenda que isso é uma forma breve de descrever um religião. Sei que, e como sei, que as Testemunhas de Jeová são muito mais que isso, tanto em aspectos bons, quanto negativos também. Afinal, toda religião tem seus pontos  positivos e os negativos. Aliás, em geral, o ponto negativo em toda religião, para mim, são as pessoas que nela estão. Facilmente as teorias ensinadas em qualquer templo religioso são deturpadas por aqueles que não buscam a base de toda religião que é amar a deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo. Até hoje não entendi porque as pessoas estudam tanto sobre tantos assuntos quando na verdade, não aprenderam esses dois pontos chaves. Bom, cada um faz da vida o que quer, inclusive eu. Aprendi que não há caminho para o crescimento espiritual. Se uma religião estuda demais e a outra nem tanto, ao menos, independente do quanto se instruem, desejo de coração que todos possam amar ao próximo e alcançar o divino. 

Retomando a minha infância, eu estudava muito a bíblia. Fui aos poucos sendo afastado daqueles que eram da minha família e não pertenciam a mesma denominação religiosa que meus pais. Frequentava as reuniões três vezes por semana além dos estudos bíblicos que eram realizados em casa. Acompanhava meus pais nos trabalho de campo, ou, trabalho de pregação de casa em casa realizados aos sábados e domingos.

Um dia, deitado em minha cama, não me recordo o motivo, minha mãe estava no meu quarto e me disse o seguinte:

- Se você não consegue amar as pessoas que estão à sua volta, nunca poderá amar a Deus.

Eu era uma pessoa assídua na religião, apesar de não gostar na época daquelas obrigações como toda criança talvez tenha repulsa - abdicar das brincadeiras para fazer atividades sérias não agrada a qualquer menino. Por ser assíduo e ter em meu coração certo discernimento de que deveríamos amar a Deus, choquei-me com a declaração de minha mãe. Ainda mais por ela ter dito que eu não amava as pessoas que estavam à minha volta. Essa frase iria percorrer toda minha vida até as sessões de terapia nos meus 30 anos.

Ao longo da minha adolescência eu tive que me confrontar com diversas situações que desobedeciam aquele Deus que eu deveria seguir. Cada vez que eu não conseguia seguir os dogmas da religião, sempre me culpava por não amar a Deus suficientemente. Você se cobra tanto até chegar ao momento de quase desistir, tomar remédios querendo que tudo desapareça ou beber até que tudo se resolva. Por pouco não entrei em caminhos escuros de vicio ou morte prematura.

Eu focava tanto no que deveria fazer e não conseguia que me sentia fraco, impotente, sem possibilidade de continuar vivendo. Em meio às tristezas, chegou o dia, aos 20 anos, em que eu não aguentava mais a pressão daquela religião. Larguei tudo! Pedi para ser desassociado e fui buscar meu próprio caminho. Eu passaria pela duvida de ter largado uma religião que "seria" a única e verdadeira, depois por uma fase agnóstica até chegar ao ateísmo.

Sai de Belo Horizonte em 2004 e fui morar em São Paulo. Lá chegando, arrumei um trabalho temporário em um clinica de podologia - havia aprendido as técnicas de massagens trabalhando em uma loja da mãe de uma ex namorada. Entre uma reflexologia e outra conheci uma senhora de 70 anos que, sempre muito solicita, conversa comigo e ouvia todas minhas histórias. Depois de alguns meses comuniquei a ela que iria parar de trabalhar na clinica pois havia conseguido um estágio em minha área. Ela pediu para que eu fosse na casa dela aos sábados continuar as massagens, pois, comprovadamente durante aqueles meses eu havia curado o pé dela. Realmente aquele pé estava todo atrofiado e as massagens haviam tornado as articulações deles como eram há décadas antes e agora ela poderia ir aos bailes da terceira idade e dançar sem dor. Ela disse que eu tinha mãos de cura e que seu eu largasse a faculdade de arquitetura e fosse fazer medicina eu me daria muito bem. Como não gosto de medicina, havia ganhado uma amiga e uma possibilidade de grana extra já que o estágio pagava muito pouco aceitei o convite.

Durante os sábados em que eu ia lá ela me confessou ser espírita. No inicio ela não tocava muito no assunto, acho que ela sabia que eu, por ter sido testemunha de jeová, tinha uma aversão a tal palavra. Mas, ela, muito discreta, ia jogando algumas palavras sobre espiritualidade aleatoriamente aos meus ouvidos. Um dia eu disse: "Vou lá na Federação Espirita de São Paulo onde você frequenta!" Ela disse para eu ter calma. Ela buscaria por uma palestra que talvez me interessasse e me chamaria para assisti-la. Na próxima semana, mesmo sem o convite dela fui até a Federação. Chegando lá era uma palestra sobre o amor. Duraria 40 minutos. Sentei e aguardei que começassem. Musicas calmas, depois entrou uma pessoa no palco do teatro e começou a discursar. Ela falou sobre o amor de Deus e, sendo este um ser de amor, ele não nos puniria como algumas religiões ensinavam, somos responsáveis diretos por nossas ações. Disse que Ele nos enviou seu filho como exemplo, mas, nós, em nossa grande imperfeição, estávamos longe de sermos como Jesus. Por isso, não deveríamos ficar frustados se não formos como ele. Só pelo fato de queremos ser igual já é um grande passo. Jesus era amor em pessoa e isso era algo difícil sermos. Além de queremos ser como ele se ao menos quisermos tentar amar o nosso próximo, também já seria algo valioso perante os olhos de Deus. Depois de queremos, se amássemos realmente, seria um outro grande passo. Se além de amarmos, perdoássemos, que maravilha seria! Depois de aprender a amar e perdoar, esquecer. Uma coisa de cada vez. Para alguns, essa palestra pode parecer boba, mas, imagine para uma pessoa que se culpava a vida vida inteira por não amar a Deus e que este iria castigá-lo! Foi a primeira vez que pude respirar aliviado, pois, Deus além de ser amoroso era bondoso e daria "tempo ao tempo" para que eu atingisse, ou não, algum estágio espiritual elevado. Eu chorava tanto, mas tanto, que comecei até a soluçar. Eu que não sou de demonstrar meus sentimentos em público, por isso, fiquei morrendo de vergonha de levantar dali. A palestra terminou, fiquei 10 minutos esperando me recompor e fui embora. Nunca havia sentido tanta paz na vida. Eu jamais poderia esperar viver aquilo, sentir paz e quase um amor ou amor pelo divino.

Naquele dia, agradeci pela primeira vez a Deus por se fazer presente em minha vida.