Pretendo aqui relatar, como em diário, o meu desenvolvimento espiritual na umbanda. Não pretendo oferecer ensinamento, até mesmo por não ter o suficiente para compartilhar. Espero somente, poder dividir com as pessoas, as estão se iniciando ou somente possuem curiosidade sobre essa religião maravilhosa, o meu despertar para o plano espiritual e quem sabe, ajudá-las a desmistificar o que parece tão oculto. Espero também poder compartilhar meu olhar sobre a vivência que tive em outras religiões.
quinta-feira, 14 de abril de 2016
Nenhum choro dura a vida toda, é fisiologicamente impossível.
Quando você sai da assistência e passa a integrar o corpo de médium de uma casa, você recebe uma força muito mais intensa do que as recebidas pelos consulentes. Não é porque você se tornou uma pessoa especial que isso acontece. É porque você irá precisar cuidar tanto de si quanto do outro. Durante todo o período que você estiver ali, por mais que você ache que está sendo jogado de um lado para o outro, observe, há várias entidades cuidando de ti. Aliás, o caminho do desenvolvimento mediúnico é solitário, é você e suas entidades para cuidar de um terceiro. Não queira jogar toda a responsabilidade do seu desenvolvimento sobre o outro, aprenda a cuidar dela sozinho, pois, um dia será somente seu corpo incorporado em função da caridade. Então suponhamos que um dia você precise pedir afastamento da casa. O mínimo que você deve fazer é chegar para a entidade que lhe deu permissão para entrar e solicitar sair. Independente do motivo da sua saída, é por consideração e amor às entidades que você deve pedir e não simplesmente sumir como se aquele local nunca tivesse existido na sua vida. Eu tenho um amor muito grande pelas entidades. Elas estão realmente acima de tudo aquilo que acreditamos ser certo ou errado. Toda casa de Umbanda leva o nome das entidades que fundaram a casa. Não é o pai-de-santo ou sacerdote quem é o “dono”, quem manda ali é um ser espiritual. Então pense, sempre que você precisar se ausentar de uma casa, você não estará se ausentando de pessoas somente, mas, sim, de uma legião de forças espirituais que te ampararam a todo momento que você esteve presente ali. Lembre-se, você nunca sabe se precisará voltar. Trate com amor e carinho aqueles que um dia te abriram as portas.
Era 1996. Eu tinha 15 anos quando
Marisa Monte lançou o CD Barulhinho Bom. Sai da escola pela manhã e atravessei
correndo o vidaduto Santa Tereza, em Belo Horizonte, e cheguei sem folego na Loja Americas para
comprar o CD. Eu já era fã de Marisa Monte desde os 11 anos de idade. Lembro
que o namorado da minha irmã emprestou pra ela o vinil Cor-de-Rosa e Carvão e o
Mais. Quem disse que ela conseguiu escutar? Apossei dos dois LP’s e quase não
devolvi para o dono. Fui para casa ansioso de escutar o novo trabalho da
Marisa. Assim que comecei a ouvir, tive que baixar o som, pois, a música que
mais me agradei, a Magamalabares, continha trechos que uma Testemunha de Jeová
jamais permitiria que seu filho escutasse. Escutei com fone de ouvido o quanto pude
naquele tarde. No outro dia, fui para escola. Ao chegar, vi uma fogueira na
porta de casa: minha mãe havia queimado o encarte do CD por conter nudes. Olha,
imagine alguém bravo (também pudera, filho de Ogum) disse coisas que fizeram
minha mãe chorar, mas, que não me arrependo até hoje. Ao menos ela não resolveu
escutar o CD, né?! Já pensou se ela escutasse oxaiê, anjo e Deus em uma mesma
música, já seria motivo pra acharem que eu iria morrer no Armagedon.
Bom, eu sabia que minha mãe não
gostaria que eu escutasse tal música. Gostaria não, ela me proibiria. Mas, o
mais interessante, era que na época, eu nem sabia o motivo. Eu não tinha repertório
para ter qualquer tipo de interpretação sobre essa música, somente sei que
gostava, e chorava ao escuta-la (também pudera, filho de Oxum).
Quando pude compreende-la, da
minha forma, afinal, poemas são subjetivos, Magamalabares ficou mais linda
ainda. Alguns meses atrás em uma festa aqui no meu apartamento, minha prima,
evangélica, disse que gostava muito dessa música. Bom, não sei se ela gostou da
explicação, mas, ai vai:
(Escute aqui enquanto acompanha a explicação)
Magamalabares
(Neologia de Magas + Malabares.
Malabarismo feito pelas energias, entidades, feiticeira, orixás femininos.)
Acqua Marã
(Uma das definições que achei
para Marã, do Tupi, é revolução. Aguas que causam revolução. Considerando a
formação religiosa do Carlinho Brown, podemos entender que ele, no inicio da
música, fala de uma Orixá aquática que brinca com o movimento das águas (ondas)
para gerar revoluções – no plano carnal e espiritual.)
Um barquinho oxaiê
Quem esteve aqui
Viu barquinho de gazeta
Ancorar no mistério
(O termo mistério é usado dentro
da Umbanda e do Candomblé para designar campos magísticos. Barquinhos são
oferendados a Yemanjá com toda sorte de perfumes e adornos. Quem tá sem grana pra
comprar o barquinho de isopor ou madeira, faz um de jornal mesmo (A Gazeta) e
oferenda pra Ela. Logo ele vê o barquinho ancorar no mistério de Yemanjá.)
Notas musicais
Dentre bolas de sabão
que de nossas serenatas vieram
(Ao som dos atabaques, músicas
são tocadas reverenciado o Orixá. Construímos aqui a imagem das espumas do mar,
“bolhas de sabão” enquanto preparamos a oferenda)
Flores que ofertamos
e que nunca morrerão
em vasos e jarros se bronzeiam
(Agora fica mais fácil imaginarmos
o ritual todo. O barquinho de Yemanjá, a flores em vasos de barro. Quando uma
planta recebe um Axé, sabemos que ela vive mais. Aqui, ele vai mais além,
nossas oferendas nunca morrem para os Orixás. As flores, duram para sempre).
Os anjos de onde vem
sua vida
bem-vinda
a trilha
(Os anjos de onde vem? E os
orixás? Cada um com sua vida. Seja bem vinda. Cada um com sua trilha, com sua
jornada.)
Os livros não são sinceros
(Muitos livros fundamentalistas
religiosos desmentes ou desacreditam os Orixás)
Quem tem Deus como império
(Aqui ele fala em Deus, mas,
abaixo ele fala em sininhos, no Adjá, sino que serve para manter a vibração do
orixá dentro do ilê ou direcionar ele no Xirê, dança dos orixás. Ou seja, quem
escuta o Adjá, sabe que não está sozinho, o Orixá está ali presente com seu Axé).
Ogum Beira Mar, Cigano Kayron, Vô
Bento, Zé Sivirino, Exú do Lodo: Em 5 anos de Umbanda já estão todos aqui.
Quando montei esse Blog, gostaria
de fazer um relato constante do desenvolvimento do meu caminho espiritual no
intuito de ajudar aqueles que um dia estiverem começando. Quando menos percebi,
frequentei giras, cursos, palestras, trabalhei, li alguns livro e não escrevi
quase nada aqui para que eu pudesse reler e lembrar desse meu nascimento.
Agora, todas as entidades estão presentes como se sempre estivessem estado aqui
ao meu lado – sempre estiveram (a cada incorporação, um “flash” dos momentos
que elas me socorreram em algum momento da minha vida).
Como as entidades nos dão seus
nomes? Simplesmente “pipocam” na sua cabeça. Ai você pensa: “Gente, será que é
isso mesmo ou é coisa da minha cabeça?!” Sou o tipo de pessoa que não grava
nada na memória. Dê-me sua senha do banco e, se eu não anotar, 15 minutos
depois terei esquecido. A cada entidade que se mostrava, eu não anotava nada
como teste para saber se depois elas voltariam a deixar no meu mental o nome
apresentado. Era certeiro que na próxima gira, da mesma entidade, ela estava lá
se apresentando com o mesmo nome.
De todos os nomes de entidades
que recebo, o que mais me impressionou foi o do Cigano Kayron. Sempre pensei
que os outros nomes pudessem ser sugestão da minha mente por estar em contato
com nomes tão comuns dentro dos terreiros. Kayron, é um nome que nunca fez
parte do meu repertório de pessoas ou personalidades que conheço. Eu, que não
entendia nada sobre mitologia grega, fui lá pesquisar. Esse nome é uma variação
de Quiron(Um Deus centauro). Ao estudar sobre a origem do povo cigano na Europa,
a maioria atravessou a Grécia para chegar a outros países e continentes. Além
da informação do nome, o Cigano Kayron é de origem indiana (os ciganos do mundo
todo são originários da índia), o que pude perceber pela forma como ele se
movimenta e os acessórios e roupa que ele usa.
Muitos médiuns podem ficar ansiosos quanto a saber o nome da suas entidades. Aconselho a nunca se preocuparem com isso. Empreste seu corpo para a entidade que em breve ela entrará no seu mental e deixará o nome lá, bem guardadinho. É um momento lindo do nosso desenvolvimento. Chorei todas as vezes que isso aconteceu.
O Tempo pode ter várias divisões: segundo, horas, dias e
etc. No entanto, na espiritualidade que vem dos ensinamentos de origem
africana, podemos dividir o tempo em 3 partes que receberão os seguintes nomes:
Oni Sáà Wuré, Macura Dilè e Macura Tatá ou Macuriá - essão são os Orixás Tempo. Oni Sáà Wuré é o tempo maior, aquele que não tem inicio nem fim. Macura Dilè é
o tempo que teve um início mas não tem fim (o inicio da criação teve início mas
não terá fim (o universo está em constante expansão). Macura Tatá ou Macuriá é
o tempo que tem inicio e fim (nossa existência, por exemplo, nascemos,
crescemos e morremos). No final, todos esses tipos de tempo estão interligados
entre si. A essa união podemos chamar de trindade dos tempos ou então Murachó. Dessa explicação podemos compreender a música: É tempo macurá Di Le É tempo
macurá Tatá A, a, é a murachó, o, o, É o macuria. Acima, saúda-se os tempos dos
quais fazemos parte.
Quando você cresce em uma família de Testemunhas de Jevá, qualquer tema
que seja contrário aos assuntos da religião jamais podem ser usufruídos ou
comentados, a não ser para criticar. Quando alguns desses temas proibidos eram abordados
em musicas, simplesmente eu tinha que trocar de rádio, jogar o CD fora ou sair
de um recinto. Lembro-me de comprar o CD Barulhinho Bom da Marisa Monte e minha
mãe queimar o encarte (que continha desenho de mulheres sem camisa) dizendo que
aquilo não era “apropriado”. Quando tocava a musica Lenda das Sereias, da
Marisa Monte, lá ia eu com preguiça trocar de música – como mexia comigo
aqueles tambores no início, como havia ritmo naquela musica, mas, se eu
escutasse mesmo que escondido, sentiria uma culpa enorme incutida pela religião.
Era melhor nunca escutar.
Lembro-me da que a maior liberdade que conquistei deixando de ser
Testemunha de Jeová foi a liberdade musical e de ritmos.
“Ela mora no mar
Ela brinca na areia
No balanço das ondas
a paz ela semeia.”
Por esses tempos eu
estava no carro e começou a tocar uma das “músicas proibidas”, pois havia a
palavra santa no meio dela. A música se chama Raça, do Milton Nacimento.
Musicas são subjetivas e, por isso, passíveis de várias interpretações. A minha
interpretação é espiritual. Quando incorporamos é uma força que chega em nós como
se fosse mágica e enche nosso corpo de alegria. São os santos, santas que estão
vindo até nós e tudo é uma grande euforia. Ficamos alucinados e somos jogados
ou rodopiados dependendo de cada
entidade. Cantamos, gritamos nosso sangue ferve algumas vezes. De onde vem
essas energia que nos aquecem e cuidam da gente? De onde vem essa força que nos
tira das nossas casas e nos movimenta até o templo quase que automaticamente?
Iluminam nossa casa, nos dão força e energia. Eles vêm de aruanda, de muito longe
para nos fazer companhia. Bom, quem escreveu essas palavras não foi eu, foi o
Milton, somente destrinchei para a interpretação que eu tive a partir da minha
religião.
Essa semana eu queria um atabaque de qualquer forma. Postei no Facebook uma mensagem pedindo indicações de onde comprar um atabaque barato. Algumas pessoas indicaram vários locais até que um amigo lá do centro me deu seu primeiro atabaque que ele havia comprado para treinar quando começou a aprender a tocar.Veio à jato meu pedido!
A intenção ao querer o atabaque é, primeiramente porque sempre me fascinou instrumentos percussivos e depois para aprender o toque que corresponde a cada orixá. Gostaria de informar aqui que a Umbanda não cultua Orixás, logo, saber cada toque de cada entidade não é uma exigência que se faz dentro do maioria dos terreiros. Aprender os toques complementaria também meu aprendizado sobre religiões de matriz afro.
Sempre estranhei a forma como tambores me deixavam irrequieto por dentro. Uma vez quando eu tinha 23 anos eu fui assistir a uma apresentação da cantora Consuelo de Paula. O Show dela começava com ela sozinha tocando um tambor. Pra quê?! Chorei o inicio do show todinho. Outra vez, quanto eu tinha 25 anos, eu estava no Mercado Central de São Paulo quando inesperadamente eu vi uma movimentação de pessoas se aglomerando em um local e, quando me aproximei, começou uma apresentação de Taiko (tambores japoneses). Assim que soaram os tambores lá se foram lágrimas escorrendo novamente. Pensei: "Cacete, que merda é essa que acontece sempre que escuto um tambor?!"
Uma coisa eu tenho certeza, nunca serei ogan. O tanto que as entidades me deixam zonzo durante as gira eu jamais teria coordenação para tocar. Admiro aqueles que cumprem essa função. A energia que emana das mãos desses moços e moças (na umbanda mulher pode tocar tambor) é algo que toca profundamente, a caridade através da vibração da musica. Sendo assim, meu aprendizado é só para hobby mesmo.
Não consegui aprender violão, flauta e teclado. Espero me dar bem no batuque.