quinta-feira, 14 de abril de 2016

Nenhum choro dura a vida toda, é fisiologicamente impossível. 
Já os estados mentais, sim – são escolhas.

sexta-feira, 1 de abril de 2016

Chegadas e Partidas

Quando você sai da assistência e passa a integrar o corpo de médium de uma casa, você recebe uma força muito mais intensa do que as recebidas pelos consulentes. Não é porque você se tornou uma pessoa especial que isso acontece. É porque você irá precisar cuidar tanto de si quanto do outro. 

Durante todo o período que você estiver ali, por mais que você ache que está sendo jogado de um lado para o outro, observe, há várias entidades cuidando de ti. Aliás, o caminho do desenvolvimento mediúnico é solitário, é você e suas entidades para cuidar de um terceiro. Não queira jogar toda a responsabilidade do seu desenvolvimento sobre o outro, aprenda a cuidar dela sozinho, pois, um dia será somente seu corpo incorporado em função da caridade. 

Então suponhamos que um dia você precise pedir afastamento da casa. O mínimo que você deve fazer é chegar para a entidade que lhe deu permissão para entrar e solicitar sair. Independente do motivo da sua saída, é por consideração e amor às entidades que você deve pedir e não simplesmente sumir como se aquele local nunca tivesse existido na sua vida.

Eu tenho um amor muito grande pelas entidades. Elas estão realmente acima de tudo aquilo que acreditamos ser certo ou errado. Toda casa de Umbanda leva o nome das entidades que fundaram a casa. Não é o pai-de-santo ou sacerdote quem é o “dono”, quem manda ali é um ser espiritual. 

Então pense, sempre que você precisar se ausentar de uma casa, você não estará se ausentando de pessoas somente, mas, sim, de uma legião de forças espirituais que te ampararam a todo momento que você esteve presente ali. 

Lembre-se, você nunca sabe se precisará voltar. 

Trate com amor e carinho aqueles que um dia te abriram as portas.


segunda-feira, 21 de março de 2016

MAGAMALABARES - Músicas Proibidas – Parte 2


Era 1996. Eu tinha 15 anos quando Marisa Monte lançou o CD Barulhinho Bom. Sai da escola pela manhã e atravessei correndo o vidaduto Santa Tereza, em Belo Horizonte,  e cheguei sem folego na Loja Americas para comprar o CD. Eu já era fã de Marisa Monte desde os 11 anos de idade. Lembro que o namorado da minha irmã emprestou pra ela o vinil Cor-de-Rosa e Carvão e o Mais. Quem disse que ela conseguiu escutar? Apossei dos dois LP’s e quase não devolvi para o dono. Fui para casa ansioso de escutar o novo trabalho da Marisa. Assim que comecei a ouvir, tive que baixar o som, pois, a música que mais me agradei, a Magamalabares, continha trechos que uma Testemunha de Jeová jamais permitiria que seu filho escutasse.  Escutei com fone de ouvido o quanto pude naquele tarde. No outro dia, fui para escola. Ao chegar, vi uma fogueira na porta de casa: minha mãe havia queimado o encarte do CD por conter nudes. Olha, imagine alguém bravo (também pudera, filho de Ogum) disse coisas que fizeram minha mãe chorar, mas, que não me arrependo até hoje. Ao menos ela não resolveu escutar o CD, né?! Já pensou se ela escutasse oxaiê, anjo e Deus em uma mesma música, já seria motivo pra acharem que eu iria morrer no Armagedon.

Bom, eu sabia que minha mãe não gostaria que eu escutasse tal música. Gostaria não, ela me proibiria. Mas, o mais interessante, era que na época, eu nem sabia o motivo. Eu não tinha repertório para ter qualquer tipo de interpretação sobre essa música, somente sei que gostava, e chorava ao escuta-la (também pudera, filho de Oxum).

Quando pude compreende-la, da minha forma, afinal, poemas são subjetivos, Magamalabares ficou mais linda ainda. Alguns meses atrás em uma festa aqui no meu apartamento, minha prima, evangélica, disse que gostava muito dessa música. Bom, não sei se ela gostou da explicação, mas, ai vai:

(Escute aqui enquanto acompanha a explicação)

Magamalabares

(Neologia de Magas + Malabares. Malabarismo feito pelas energias, entidades, feiticeira, orixás femininos.)

Acqua Marã

(Uma das definições que achei para Marã, do Tupi, é revolução. Aguas que causam revolução. Considerando a formação religiosa do Carlinho Brown, podemos entender que ele, no inicio da música, fala de uma Orixá aquática que brinca com o movimento das águas (ondas) para gerar revoluções – no plano carnal e espiritual.)

Um barquinho oxaiê
Quem esteve aqui
Viu barquinho de gazeta
Ancorar no mistério

(O termo mistério é usado dentro da Umbanda e do Candomblé para designar campos magísticos. Barquinhos são oferendados a Yemanjá com toda sorte de perfumes e adornos. Quem tá sem grana pra comprar o barquinho de isopor ou madeira, faz um de jornal mesmo (A Gazeta) e oferenda pra Ela. Logo ele vê o barquinho ancorar no mistério de Yemanjá.)

Notas musicais
Dentre bolas de sabão
que de nossas serenatas vieram

(Ao som dos atabaques, músicas são tocadas reverenciado o Orixá. Construímos aqui a imagem das espumas do mar, “bolhas de sabão” enquanto preparamos a oferenda)

Flores que ofertamos
e que nunca morrerão
em vasos e jarros se bronzeiam

(Agora fica mais fácil imaginarmos o ritual todo. O barquinho de Yemanjá, a flores em vasos de barro. Quando uma planta recebe um Axé, sabemos que ela vive mais. Aqui, ele vai mais além, nossas oferendas nunca morrem para os Orixás. As flores, duram para sempre).

Os anjos de onde vem
sua vida
bem-vinda
a trilha

(Os anjos de onde vem? E os orixás? Cada um com sua vida. Seja bem vinda. Cada um com sua trilha, com sua jornada.)

Os livros não são sinceros

(Muitos livros fundamentalistas religiosos desmentes ou desacreditam os Orixás)

Quem tem Deus como império

(Aqui ele fala em Deus, mas, abaixo ele fala em sininhos, no Adjá, sino que serve para manter a vibração do orixá dentro do ilê ou direcionar ele no Xirê, dança dos orixás. Ou seja, quem escuta o Adjá, sabe que não está sozinho, o Orixá está ali presente com seu Axé).

No mundo não está sozinho
Ouvindo sininhos


segunda-feira, 14 de março de 2016

OS NOMES DAS ENTIDADES

Ogum Beira Mar, Cigano Kayron, Vô Bento, Zé Sivirino, Exú do Lodo: Em 5 anos de Umbanda já estão todos aqui.

Quando montei esse Blog, gostaria de fazer um relato constante do desenvolvimento do meu caminho espiritual no intuito de ajudar aqueles que um dia estiverem começando. Quando menos percebi, frequentei giras, cursos, palestras, trabalhei, li alguns livro e não escrevi quase nada aqui para que eu pudesse reler e lembrar desse meu nascimento. Agora, todas as entidades estão presentes como se sempre estivessem estado aqui ao meu lado – sempre estiveram (a cada incorporação, um “flash” dos momentos que elas me socorreram em algum momento da minha vida).

Como as entidades nos dão seus nomes? Simplesmente “pipocam” na sua cabeça. Ai você pensa: “Gente, será que é isso mesmo ou é coisa da minha cabeça?!” Sou o tipo de pessoa que não grava nada na memória. Dê-me sua senha do banco e, se eu não anotar, 15 minutos depois terei esquecido. A cada entidade que se mostrava, eu não anotava nada como teste para saber se depois elas voltariam a deixar no meu mental o nome apresentado. Era certeiro que na próxima gira, da mesma entidade, ela estava lá se apresentando com o mesmo nome.

De todos os nomes de entidades que recebo, o que mais me impressionou foi o do Cigano Kayron. Sempre pensei que os outros nomes pudessem ser sugestão da minha mente por estar em contato com nomes tão comuns dentro dos terreiros. Kayron, é um nome que nunca fez parte do meu repertório de pessoas ou personalidades que conheço. Eu, que não entendia nada sobre mitologia grega, fui lá pesquisar. Esse nome é uma variação de Quiron(Um Deus centauro). Ao estudar sobre a origem do povo cigano na Europa, a maioria atravessou a Grécia para chegar a outros países e continentes. Além da informação do nome, o Cigano Kayron é de origem indiana (os ciganos do mundo todo são originários da índia), o que pude perceber pela forma como ele se movimenta e os acessórios e roupa que ele usa.

Muitos médiuns podem ficar ansiosos quanto a saber o nome da suas entidades. Aconselho a nunca se preocuparem com isso. Empreste seu corpo para a entidade que em breve ela entrará no seu mental e deixará o nome lá, bem guardadinho. É um momento lindo do nosso desenvolvimento. Chorei todas as vezes que isso aconteceu. 


segunda-feira, 27 de outubro de 2014

A Trindade do Tempo



O Tempo pode ter várias divisões: segundo, horas, dias e etc. No entanto, na espiritualidade que vem dos ensinamentos de origem africana, podemos dividir o tempo em 3 partes que receberão os seguintes nomes: Oni Sáà Wuré, Macura Dilè e Macura Tatá ou Macuriá - essão são os Orixás Tempo. 

Oni Sáà Wuré é o tempo maior, aquele que não tem inicio nem fim. 

Macura Dilè é o tempo que teve um início mas não tem fim (o inicio da criação teve início mas não terá fim (o universo está em constante expansão). 

Macura Tatá ou Macuriá é o tempo que tem inicio e fim (nossa existência, por exemplo, nascemos, crescemos e morremos). 

No final, todos esses tipos de tempo estão interligados entre si. 

A essa união podemos chamar de trindade dos tempos ou então Murachó. 

Dessa explicação podemos compreender a música: 

É tempo macurá Di Le 
É tempo macurá Tatá A, a, é a murachó, o, o, 
É o macuria. 

Acima, saúda-se os tempos dos quais fazemos parte.



terça-feira, 8 de abril de 2014

MUSICAS PROIBIDAS - Parte 1

     Quando você cresce em uma família de Testemunhas de Jevá, qualquer tema que seja contrário aos assuntos da religião jamais podem ser usufruídos ou comentados, a não ser para criticar. Quando alguns desses temas proibidos eram abordados em musicas, simplesmente eu tinha que trocar de rádio, jogar o CD fora ou sair de um recinto. Lembro-me de comprar o CD Barulhinho Bom da Marisa Monte e minha mãe queimar o encarte (que continha desenho de mulheres sem camisa) dizendo que aquilo não era “apropriado”. Quando tocava a musica Lenda das Sereias, da Marisa Monte, lá ia eu com preguiça trocar de música – como mexia comigo aqueles tambores no início, como havia ritmo naquela musica, mas, se eu escutasse mesmo que escondido, sentiria uma culpa enorme incutida pela religião. Era melhor nunca escutar.

       Lembro-me da que a maior liberdade que conquistei deixando de ser Testemunha de Jeová foi a liberdade musical e de ritmos.

“Ela mora no mar

Ela brinca na areia
No balanço das ondas 

a paz ela semeia.”

        Por esses tempos eu estava no carro e começou a tocar uma das “músicas proibidas”, pois havia a palavra santa no meio dela. A música se chama Raça, do Milton Nacimento. Musicas são subjetivas e, por isso, passíveis de várias interpretações. A minha interpretação é espiritual. Quando incorporamos é uma força que chega em nós como se fosse mágica e enche nosso corpo de alegria. São os santos, santas que estão vindo até nós e tudo é uma grande euforia. Ficamos alucinados e somos jogados ou rodopiados dependendo  de cada entidade. Cantamos, gritamos nosso sangue ferve algumas vezes. De onde vem essas energia que nos aquecem e cuidam da gente? De onde vem essa força que nos tira das nossas casas e nos movimenta até o templo quase que automaticamente? Iluminam nossa casa, nos dão força e energia. Eles vêm de aruanda, de muito longe para nos fazer companhia. Bom, quem escreveu essas palavras não foi eu, foi o Milton, somente destrinchei para a interpretação que eu tive a partir da minha religião.


Espero estar certo.


Escutem:



Raça
Lá vem a força, lá vem a magia
Que me incendeia o corpo de alegria
Lá vem a santa maldita euforia
Que me alucina, me joga e me rodopia
Lá vem o canto, o berro de fera
Lá vem a voz de qualquer primavera
Lá vem a unha rasgando a garganta
A fome, a fúria, o sangue que já se levanta
De onde vem essa coisa tão minha
Que me aquece e me faz carinho?
De onde vem essa coisa tão crua
Que me acorda e me põe no meio da rua?
É um lamento, um canto mais puro
Que me ilumina a casa escura
É minha força, é nossa energia
Que vem de longe prá nos fazer companhia
É Clementina cantando bonito
As aventuras do seu povo aflito
É Seu Francisco, boné e cachimbo
Me ensinando que a luta é mesmo comigo
Todas Marias, Maria Dominga
Atraca Vilma e Tia Hercília
É Monsueto e é Grande Otelo
Atraca, atraca que o Naná vem chegando


segunda-feira, 7 de abril de 2014

Toque para os Orixás

               Essa semana eu queria um atabaque de qualquer forma. Postei no Facebook uma mensagem pedindo indicações de onde comprar um atabaque barato. Algumas pessoas indicaram vários locais até que um amigo lá do centro me deu seu primeiro atabaque que ele havia comprado para treinar quando começou a aprender a tocar.Veio à jato meu pedido!

                      A intenção ao querer o atabaque é, primeiramente porque sempre me fascinou instrumentos percussivos e depois para aprender o toque que corresponde a cada orixá. Gostaria de informar aqui que a Umbanda não cultua Orixás, logo, saber cada toque de cada entidade não é uma exigência que se faz dentro do maioria dos terreiros. Aprender os toques complementaria também meu aprendizado sobre religiões de matriz afro.

                           Sempre estranhei a forma como tambores me deixavam irrequieto por dentro.  Uma vez quando eu tinha 23 anos eu fui assistir a uma apresentação da cantora Consuelo de Paula. O Show dela começava com ela sozinha tocando um tambor. Pra quê?! Chorei o inicio do show todinho. Outra vez, quanto eu tinha 25 anos, eu estava no Mercado Central de São Paulo quando inesperadamente eu vi uma movimentação de pessoas se aglomerando em um local e, quando me aproximei, começou uma apresentação de Taiko (tambores japoneses). Assim que soaram os tambores lá se foram lágrimas escorrendo novamente. Pensei: "Cacete, que merda é essa que acontece sempre que escuto um tambor?!"

                               Uma coisa eu tenho certeza, nunca serei ogan. O tanto que as entidades me deixam zonzo durante as gira eu jamais teria coordenação para tocar. Admiro aqueles que cumprem essa função. A energia que emana das mãos desses moços e moças (na umbanda mulher pode tocar tambor) é algo que toca profundamente, a caridade através da vibração da musica. Sendo assim, meu aprendizado é só para hobby mesmo.

                             Não consegui aprender violão, flauta e teclado. Espero me dar bem no batuque.